Associativismo de Farmácias no Brasil- Erros e Acertos (Parte II)

ERROS E ACERTOS SOBRE O ASSOCIATIVISMO DE FARMÁCIAS NO BRASIL

SEGUNDA PARTE – EDIÇÃO AGOSTO 2011 – REVISTA ABCFARMA

Na edição de Julho o Consultor Corporativo especializado no Canal Farma Gilson Coelho abordou a primeira parte da matéria ERROS E ACERTOS DO ASSOCIATIVISMO DE FARMÁCIAS NO BRASIL.

Nesta edição mostramos a segunda parte da matéria que inicia com a seguinte pergunta:

ABCFARMA – Você recebeu algumas manifestações sobre a primeira parte da matéria que exibimos na edição de julho?
Gilson Coelho – Confesso que está aumentando em muito o nível de preocupação com a qualidade no associativismo de farmácias no Brasil. Recebi diversas manifestações de apoio, com destaque especial para o comentário de Alberto – da Farmamed, de Sorocaba – São Paulo. Em seu email, Aberto faz o seguinte comentário: ‘Digo que é um MBA completo para o associativismo, e para todos os proprietários de farmácia do Brasil. Tem informação e formação, além de explicação de como fazer a lição de casa dentro das lojas. Associativismo com foco em crescer a qualidade do associado no ponto de venda, gestão do conhecimento aplicado e disponibilizado diante das necessidades, ou melhor, uma associação que ofereça apoio e às vezes até socorro ao balcão onde as coisas acontecem.’
Em geral, na opinião dos leitores, o ponto chave da matéria está na constatação de que o fortalecimento da loja deve ser o foco das atenções. Sinceramente eu espero que a matéria continue provocando muitas reflexões tanto nas associações quanto nos associados. Isso pode contribuir para o aprimoramento do associativismo com mais resultados efetivos para todos.

ABCFARMA – Por que você coloca o tema da fidelização como um dos fundamentos para o sucesso do associativismo no Brasil?
Gilson Coelho – Há muitos anos nós criamos a figura a seguir para simbolizar o associativismo de farmácias. Sempre que eu observo esta figura, me vem à mente a seguinte frase: ninguém é tão bom sozinho quanto todos nós juntos. É a união que faz a força!
Se o proprietário de farmácia se considera uma pessoa auto-suficiente, imaginando possuir todos os recursos para se dar bem, provavelmente possa então seguir uma carreira solo. Por outro lado, ele poderia possuir um perfil oposto: não se considerar auto-suficiente, ter consciência de que não possui todos os recursos para se dar bem e também não se identificar com o espírito associativista. É aquela pessoa que não gosta de receber orientações, detesta padrões estabelecidos, odeia reuniões. Em ambos os casos, atuariam como peixes solitários, confiando nos próprios recursos, contando com a própria sorte. Um deles porque não necessita, o outro revela algumas carências, mas não se associa porque não possui o espírito de corpo, tão necessário no processo de associativismo. São empresários cujo comportamento ameniza a importância da massa crítica, diminuem a necessidade do ganho de escala nas operações. As associações cometeram um erro básico ao passar por cima destes fundamentos, fazendo de tudo para angariar adeptos com perfil semelhante, tudo para demonstrar um atrativo número de lojas. Tanto é verdade que a grande maioria chegou a recuar no número de lojas, fazendo uma espécie de depuração e recomeço. Apesar deste avanço, ainda falta focar na prosperidade das lojas, oferecendo todo o conhecimento formatado, necessário para que o proprietário domine as competências críticas (ver etapa um da matéria na edição anterior).

ABCFARMA – A fidelização é sempre muito lembrada no direcionamento da compra aos fornecedores selecionados. Além da compra, a fidelização se aplica a que outros fatores?
Gilson Coelho – A fidelização é muito mais ampla, mas vamos começar a análise pelo processo de compras. Todo fornecedor valoriza muito o fato de estar diante de alguém que tenha o ofício da representatividade. Isso facilita o processo, ameniza a necessidade de muitos contatos, já que o tempo é algo muito escasso nos dias de hoje. Imagine uma situação de negociação em que a associação possua um total de 300 lojas. O fornecedor rapidamente faz a conta da venda média por loja e identifica o potencial de compra da rede na sua linha de produtos. É nestas horas que a situação se complica. Imagine o negociador da rede se expondo da seguinte maneira: ‘nós temos 300 lojas, mas as que eu posso contar realmente são 120. Posso me comprometer com a compra de 120 estabelecimentos. Nestas lojas eu posso confiar’. Normalmente o negociador fica de saia justa, é obvio que será muito comedido ao falar das lojas que ficaram de fora, mas a negociação já está comprometida. O ganho de escala já está prejudicado. Contrariando frontalmente com o lema a união faz a força, os outros 180 proprietários farão as compras de maneira pulverizada, de muitos fornecedores, alimentando a máxima de que quem compra pouco de muitos não é significativo com ninguém. A fidelização é primordial não só no direcionamento da compra. Eu considero a fidelização como algo mais amplo: fidelização aos princípios, aos valores, ao direcionamento estabelecido nas assembléias, à representatividade outorgada aos dirigentes, e assim por diante.

ABCFARMA – Ainda falando sobre os descontos: e se o proprietário, isoladamente, receber uma proposta reconhecidamente melhor do que aquela acordada com o comando para toda a rede?
Gilson Coelho – Se ele for um associado fiel, dirá o seguinte para a empresa que está tentando furar o acordo: ‘Muito obrigado por esta proposta tão generosa! Se a sua empresa faz algo tão especial pela minha farmácia, isoladamente, muito mais fará pelas nossas 300 lojas! Por favor, entre em contato com o comando, responsável pelas negociações na nossa rede.’ Muitos associados não se dão conta de que propostas absurdamente altas, colocadas isoladamente, têm o propósito maior de desestabilizar o acordo firmado com o alto comando. Dependendo da postura de associado, poderá comparecer nas reuniões regulares de uma forma arrogante, questionando a tudo e a todos: ‘que droga de negociação é esta que vocês fizeram se eu sozinho recebi uma proposta muito melhor?’. Existem casos em que a idoneidade dos comandantes acaba injustamente sendo colocada à prova e aí o caos se manifesta completamente com acusações e a instalação de um clima insustentável.

ABCFARMA – Por mais unida que possa ser a associação, ela sempre estará sujeita a situações deste tipo, concorda?
Gilson Coelho – Quando é alto o coeficiente de fidelização e eficaz o processo de comunicação, estas situações até podem ocorrer, mas se tornam absolutamente administráveis. O grupo possui um saldo muito positivo nas relações, é a relação de confiança que predomina. Eu sempre afirmei que um dos mais significativos trabalhos de uma associação é a constante ‘produção da cola’ que mantém a todos unidos, vigilantes na boa condução do negócio.
Se necessário, os dirigentes precisam chegar ao ponto de exagerar no processo de comunicação, transparência e constância de propósito. A comunicação a que me refiro precisa ser de mão dupla. Quando o saldo na comunicação e relacionamentos internos é positivo, a empresa vai criando antídotos contra estes arroubos cuja intenção maior é desestabilizar o nível de coesão existente. Ela também aprende a lidar com os fornecedores descontentes, cobrando um mínimo de respeito aos acordos estabelecidos, sob pena de que haja completa ruptura nos relacionamentos em caso de iniciativas de desestabilização como mencionamos.

ABCFARMA – O que você tem a esclarecer sobre o processo de certificação mencionado na edição anterior?
Gilson Coelho – A idéia da certificação é um desafio que pode atestar o elevado grau de competência daqueles proprietários que colocarem em prática os melhores fundamentos de gestão, com impacto na rentabilidade, nos fornecedores, nos funcionários e clientes. Quando mencionamos a prática, estamos nos referindo a evidências objetivas da aplicação dos padrões estabelecidos. Vale ressaltar que o conhecimento por si só não produz nenhum efeito significativo na vida das pessoas e das empresas caso não seja colocado em prática. Resumindo, a certificação é uma espécie de outorga concedida aos proprietários de farmácias, embasado no conhecimento aplicado com resultado efetivo. Que ninguém duvide do poder do conhecimento quando se faz uso dele para mudar processos, melhorar a gestão e qualidade de vida das pessoas. Uma boa dose de conhecimento e profissionalização impactará em novos tempos para as nossas farmácias. A certificação nos moldes como defendemos ainda não é uma realidade, mas pode se transformar em meta audaciosa. Vai depender de mais massa crítica em favor da Gestão do Conhecimento nas farmácias brasileiras. Atualmente eu já trabalho com o conceito de Loja Modelo e Farmácia Escola. Ambos são estágios importantes que contribuem na caminhada do processo de certificação que aos poucos vai amadurecendo.

ABCFARMA – Outras considerações sobre esta dupla edição especial sobre o associativismo?
Gilson Coelho – Lembrar que não estamos fazendo nenhuma crítica, apenas constatações do que se observa no mercado. A nossa intenção maior é que o processo associativista se aprimore, como tudo na vida. O mercado está cada vez mais exigente, de maneira que até os grandes estão se reinventando! Eu penso que a reflexão é oportuna. Muito mais do que associações e estabelecimentos de farmácias, estamos tratando das nossas vidas, dos nossos sonhos e conquistas.

Gilson Coelho é consultor corporativo especializado no Canal Farma. Mais informações, consulte o site www.gilsoncoelho.com.br

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